BOCAPIU

Palavras

Palavras

Texto de Gelson Vieira.
, Anoitecer, Caminho das Águas, Comunidade Alto Alegre, Barreiras, Bahia.

Palavras aos poucos
em nossa pouca mente
se achegam
em partes desconexas.
Um ouvir dizer
coisas que não sei o que.
Palavras se arrastam
se assentam
repousam,
e num prá outro instante
conversam entre si,
diálogos precários,
criam centelhas.
Se arrisca pular boca a fora,
e lá vai algo gutural.
E riem, os oradores costumazes!
Palavras se retraem.
Outras pululam
Entre a língua
E o palato,
Sei lá
Se mole,
ou em seu antônimo.
Elas nos acompanham,
nos embebem de claridade,
no decorrer dos momentos,
futuras horas,
dias,
meses,
anos vindouros,
tempos idos.
Palavras não só existem
da boca para o mundo!
Palavras voltam,
palavras são criadas,
nomeiam as coisas
em meio ao barulho mental.
Menta descobri ontem,
na lavoura dos antepassados,
na roça de palavras
cultivadas,
regadas
Pela saliva do querer aprender.
No ato teatral
em ser artista
do escrever.
Escrevinhar o pensamento,
desenhos que se tornam fonemas.
Palavras nos pegam
E nos arrebatam.
Levam-nos para lugares distantes...
Momentos recônditos.
Escondem-nos ou nos faz aparecer.
Aparecemos sem palavra alguma,
Nada a dizer ou escrever.
Aparece-se na estatística educacional.
Palavras mal ditas – escritas
nos colocam na base da pirâmide
a só erguer coisas pesadas,
Enormidade de outros seres
Físicos iguais ao meu.
Palavras
Argilas que se amoldam
na mão do literato.
Textos barrentos
Moles no amassar.
Palavras se misturam,
arrumam-se em outras.
Palavra
que nos acalantam,
nos confortam,
que nos ajeitam...
Mas há
Momentos-palavras
que proporcionam escuridão!
Em certas situações
Se endurecem.
Rígidas espancam relações.
Palavras descrentes.
Fervorosas pela fé.
Palavras desesperadoras,
Firmes na certeza
De alcançarem
O pico da esperança.
Palavras são ruminadas,
Voltam noutro tempo.
Regurgitadas com arte
em escritas
se tornam códigos
quem os decifrarão?
Palavras vou economizando
em momentos de timidez.
Quando idoso,
Sou gastoso
esbanjo-as...
Palavras digo-as ao vento
E ninguém a escutar.
Palavras são banqueteadas
na doce quente
mesa da existência.
Palavras se tornam
Miras, alvos de línguas - flechas retas e certeiras.
Na mosca!
Sei que doeu,
doutra ocasião
digo, bem feito!
Toma que o tempo lhe dirá...
Palavras serpenteiam
Dão o bote,
vão embora.
Eu disse!
A minha paga chegou
E a dor ficou.
Vou embora,
que é hora.
A cachoeira das lágrimas
já não mais são minhas.
Da garganta acordes se amplificam
ô, ôs.
Filhos da dÔ
e dos ais!
palavras se eternizam no seio da alma
e daí não sai mais.
Palavras acalantos,
palavra substantiva os sonhos
nos levam a diversos mundos
palavra calada nos anulam
nos atormentam.

Gelson Fernandes Vieira nasceu em Cotegipe BA. É gestor cultural, pedagogo, fundador do Centro de Cultura e Educação Popular – CECEP. Foi representante Territorial de Cultura pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia no Território de Identidade da Bacia do Rio Grande. Estudou Projeto Cultural com ênfase em Pastoral da Cultura pela PUC Minas. Foi coordenador municipal de cultura na cidade de Barreiras e, é assessor do Ponto de Cultura Flor do Trovão em Barreiras. Instagram: @gelsoncultura, e-mail: gelsoncultura@gmail.com.