Farinha Pouca, Meu Pirão Primeiro
Texto e Arte de Gelson Vieira., Barreiras, Bahia.
Era fim de tarde, os galináceos recebiam o alimento. Mas, naquele dia os restos do café da manhã e do almoço eram poucos. Tanto que frangos, galinhas, galos, perus e peruas juntamente com os cocás disputavam a pouca ração. Comia mais aquele que mais rápido fosse com suas bicadas certeiras no alimento e nos concorrentes que disputavam a refeição diária. A coisa estava dinâmica! Era peru afastando galinha com esporadas, o galo, dono do terreiro, protegendo algumas galinhas que com ele se deliciavam o diversificado prato. Parece que ele dizia a cada uma que não esquentassem a moringa. Tá comigo, tá protegida! Imunizadas de todo e qualquer perigo... E, assim aconteceu até que todo alimento foi consumido. Foi um verdadeiro campo de batalha. Os poucos que comeram ficaram de papos cheios e, por isso, nutridos e satisfeitos. O galo até ensaiou namoro com uma das galinhas que fez parte de seu grupo seleto naquela refeição vespertina. Nesta tarde e naquele terreiro, a sociedade dos bichos bípedes se comportou de maneira mesquinha que pensa que tem o rei na barriga, ou melhor, que tem o papo maior que os outros. E, por isso suga tudo em detrimento dos direitos de seus semelhantes.
Em tempo de pandemia há uma confusão generalizada, pois o tal auxílio emergencial chegou ao fim. Mas, ao mesmo tempo outra agitação vai tomando corpo e diminuindo a chance de vida de muitos. A vacina chega ou não? A diplomacia perde sua característica e, entre tantas maluquices o ministro das relações exteriores aproveita a situação e comete uma descortesia: arrota na cara do china. Com isso, fica mais difícil a chegada do antiviral. Quem tira vantagem política é certo governador. Mas, outras figuras políticas entram na cena pandêmica e nesta confusão, o ilustre e tão esperado remédio chega de avião em terras brasileiras. Ufa!
Então, o Instituto e outros órgãos responsáveis pela manipulação e distribuição das doses profiláticas se arregimentam, cada um em suas competências, no sentido de proporcionar imunização para os servidores da saúde, principalmente aqueles da linha de frente no combate ao bicho viral apelidado COVID 19. Quando pensa que não, outro vírus começa a se espalhar por todo o país. Não se trata de nova cepa, uma derivação do vírus matriz. Mas uma estirpe bem antiga, que se instalou nestas bandas da América do Sul, que tem por lema: quem chega primeiro bebe água limpa. São conhecidos pela alcunha de abutres do poder. Que logo começaram a furar a fila dos eleitos a serem vacinados. E, logo ia oferecendo o braço para a agulhada, na maior cara de pau. Esta categoria de pessoa bem que merecia era uma boa quantidade de óleo de peroba!
Pelo Brasil, escrito em letras minúsculas, está cheio de gestores que estão a passar na frente dos outros. Um desses fura-fila disse em alto e bom som. Ouviu quem quis ouvir: Ah! Meu bem. Vim me proteger! Pois, quem tem... Tem medo! Mas, o que se ouviu nas rodas de conversa e de canto de boca. É que o Staff, aquele conjunto de pessoas que faz parte de um determinado grupo de trabalho estatal já estavam com a vacina no corpo. Pois é, disse um para outro: só acredito porque você tá me falando... Isso é divera! Para melhor esclarecer o fato, é que o prefeito, assessores e, inclusive a sua família foram todos vacinados em lugar discreto, à boquinha da noite. Qual a cidade? Ninguém sabe dizer ao certo. Mas, é uma municipalidade localizada abaixo da linha do Equador. Pronto já disse! É ou não é? Vacina de desconfiômetro você não quer levar, quer? Num vou ficar aqui na janela vendo a vacina passar, disse o gestor executivo. Enquanto isso, a rádio web Al Jazira anunciava que o povo está tomando. Mas, não informou onde é. Essa informação causou um verdadeiro pandemônio: onde, onde! Isso parece conversa fiada, fake news. Será?
Gelson Fernandes Vieira nasceu em Cotegipe BA. É gestor cultural, pedagogo, fundador do Centro de Cultura e Educação Popular – CECEP. Foi representante Territorial de Cultura pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia no Território de Identidade da Bacia do Rio Grande. Estudou Projeto Cultural com ênfase em Pastoral da Cultura pela PUC Minas. Foi coordenador municipal de cultura na cidade de Barreiras e, é assessor do Ponto de Cultura Flor do Trovão em Barreiras. Instagram: @gelsoncultura, e-mail: gelsoncultura@gmail.com.