Asfixia Geral Brasileira
Por Gelson Vieira em , Barreiras, Bahia.Os fatos se tornaram noticias. Mas, não foi um caso qualquer que a mídia sensacionalista estampa aos quatro ventos. Também não foi e nem é noticia falaciosa. Verbalizavam em imagens e textos: os hospitais de Manaus não mais têm oxigênio para os pacientes acometidos pelo vírus corona, que ataca os pulmões e os deixam pálidos em suas funções. Os profissionais assistiam paralisados, sem forças, sem argumentos técnicos. Asfixiados em suas ações de profissionais da saúde. Tão fracos que não encontravam palavras para alentar os parentes daqueles que foram a óbito ou que estavam necessitando daquele remédio. Toda a população sufocada por uma despreparada administração pública.
Várias mãos pressionavam covardemente bocas e narizes impedindo a entrada de oxigênio e a saída de gás carbônico para que a vida continuasse. Uma seção coletiva de tortura. As enfermarias, lugares onde pessoas são instaladas para recuperarem as forças do corpo e o estado psicológico, se transformaram em câmaras de gás, a exemplo daquelas instaladas nos campos de concentração, coordenadas pelos nazistas. A eutanásia foi instituída no Brasil de forma abrupta, sem projeto de lei, medida provisória e debates no parlamento nacional. Uma ação discricionária, unipessoal da violência administrativa presidencialista brasileira e governista do Estado amazonense.
O desgoverno de Wilson Lima disse à imprensa que a situação permanece delicada e que foi surpreendido pelo desabastecimento de oxigênio que atingiu hospitais. "Vivemos os dias mais tristes do Amazonas", lamenta! Reconhecer publicamente o desabastecimento de oxigênio é uma declaração que atesta que o sistema administrativo do seu governo é fruto podre que se esborrachou no chão da irresponsabilidade e criou um buraco de incerteza para a população: Como será o amanhã?
A falência do sistema público de saúde no Amazonas foi uma tragédia anunciada. Todos eram sabedores, inclusive o governador, secretários eassessores que equipamentos e remédios estavam em situação de escassez. E, por outro ângulo da história concreta, os empobrecidos sabem e sentem no próprio corpo, em seus sonhos e vontades de ser, a presença voraz dum estado falido de políticas que atenda a maioria da população. O lockdown foi descartado pelo governador amazonense com o argumento que o controle do vírus está difícil. Porem, fica mais dificultosa as ações sanitárias a serem cumpridas pela população e também o seu monitoramento. Na verdade foi a pressão das bases políticas e financiadores de campanhas eleitorais que fizeram com que o decreto que tinha por objeto o controle da pandemia fosse de água a baixo. E, as comportas que freariam a evolução da virulência fossem abertas. Com isso, deputados da morte comemoraram nas redes sociais o recuo do governante.
Quem comemora a morte presente e futura de membros da população demonstra total des-humanidade. Disse o Papa Francisco, em outra oportunidade: “quando você comemora a morte de alguém, o primeiro que morreu foi você mesmo”. Pois, a sua própria humanidade está desfalecida de empatia e, ou de senso humanitário, completo estado de overdose de insensibilidade promovida pelo pensamento político de extrema direita. A fala do pontífice ocorreu após manifestações publicas de alegria quando do falecimento de uma pessoa da esquerda brasileira. “A noite é mais violenta nos trópicos com seus monturos” disse Ferreira Gular em seu poema “Dentro da Noite Veloz”.
A maioria da população espera angustiadamente pela vacina que se torna esperança em meio à tempestade covidiana. Mas, quando? O ministro da saúde, é o militar especializado em tarefas administrativas ou logísticas, afirmou que: “a vacina vai começar no dia D e na hora H”. O Brasil deverá ser um dos últimos países do mundo a iniciar a vacinação contra a Covid-19. Atualmente, 43 países já iniciaram a vacinação, inclusive da América Latina. Nas próximas semanas, novos países entrarão na lista. A Argentina começa na próxima terça-feira, 29.
Neste terceiro domingo de janeiro do ano de 2021, somente resta aos manauenses invocarem seus pajés Manaós. E, numa pajelança, junto com a fauna e flora, ao som dos mantras e os movimentos dos corpos buscarem o revés da morte covidiana e, que evite de seus caminhos e tribos os mensageiros desgraçados, aqueles desprovidos de boas graças.
Gelson Fernandes Vieira nasceu em Cotegipe BA. É gestor cultural, pedagogo, fundador do Centro de Cultura e Educação Popular – CECEP. Foi representante Territorial de Cultura pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia no Território de Identidade da Bacia do Rio Grande. Estudou Projeto Cultural com ênfase em Pastoral da Cultura pela PUC Minas. Foi coordenador municipal de cultura na cidade de Barreiras e, é assessor do Ponto de Cultura Flor do Trovão em Barreiras. Instagram: @gelsoncultura, e-mail: gelsoncultura@gmail.com.