BOCAPIU

A Rama Secunda

A Rama Secunda

Texto de Gelson Vieira.
, Barreiras, Bahia.

Uma poda sempre que necessária se faz. Este anunciado não está claro para quem o lê ou para quem ouve a leitura, pois a mensagem não está precisa, faltam elementos para clarificar o que se quer dizer. Por isso, um questionamento deve ser feito: por que é necessário executar um corte em uma das partes do arvoredo? Isso mesmo, quais os motivos que geraram para que determinada pessoa tomasse tal decisão? Então, se reelabora a mensagem para que a presença do ruido na comunicação se desfaça: a poda se fez capital porque a árvore não se sustenta com todos os galhos secundos, pois as raízes da planta já não sugam os nutrientes da terra para que a galhada continue vigorosa.

A árvore foi amputada de uma de suas partes, um galho foi separado de sua cepa e noutro ambiente foi colocado. Mas preservou a seiva, dela utilizou para continuar sendo potencialmente outro ser vegetal, conseguindo brotar novas folhas, uma nova safra de verde esperança para que possa continuar a sua existência.

Noutro território povoado por pessoas, com raras árvores de poucas sombras e rico em ausência de Estado que se afloram as necessidades humanas. A carência nutricional são comunicadas a olhos vistos. A miséria medeia a própria desgraça! Nesse cenário a fome é verdejante e se expõe pela mendicância, pelo definhar de postos de trabalho representada pelas filas em portas de fábricas e nos comércios. Diante a solidez da realidade as promessas dos políticos não possuem qualquer concretude e nisso transformam responsabilidade pública em esmolas de palavras, é recado é dado sem utilizar qualquer mídia: - mês que vem o meu projeto será apreciado e com certeza o prefeito vai executar e muitos serão beneficiados, você não perde por esperar! Esperança vã... um horizonte tísico que se encaminha para o ocaso.

Diante as mensagens enganosas o horizonte é nebuloso. Para sobrevida da família o mantenedor está envolto às linhas da necessidade e atado em seus desejos mínimos e os de seus pares familiares de ter no prato um naco de alimento. Mesmo aquela comida encharcada de gordura que engana a fome, que posterga o definhar completo de cada um e cada uma daquela célula social. Pensamentos... os mais absurdos nascem e teimam em ganhar espaço, as alturas de suas intenções solucionáticas diante a miséria que vive.

Assim, dia após o outro, sentia como se árvore fosse ao ver cortados seus ramos de anseios. Um danificar de seus brotos por dias melhores. Contudo, as viagens pensamentais não são parte do cotidiano do gestor familiar, como outros fizeram e fazem: pegar um pau de arara e rumar para o sul, que nada tem de maravilha, ou em busca da Candangolândia, Brasília a capital dos brasileiros, que pelos seus inícios os primeiros habitantes eram denominados por candangos. A decisão também não se coaduna com a de outros patrícios como aquele que trocou a filha por três garrafas de cerveja. Ou mesmo o outro que desempregado e qualificado por desacorçoado por não dispor das mínimas condições para continuar a ser explorado em sua força intelecto física, um ser que deixa de ser objeto de exploração para se tornar abjeto em todos os sentidos. Este senhor, viúvo e descartado socialmente levava para casa nada mais e nada menos que um precioso líquido energizante e provocador de miragens na medida que oferecia para o filho um trago de aguardente cotegipana(cachaça fabricada artesanalmente em Cotegipe BA). Uma dose, sorrisos e antes de adormecer beija a fronte do pai e diz: o melhor pai do mundo! Em seguida caia sobre um pedaço de papelão. Amanhã será diferente, será outro dia! Diz o pai em voz alta. Amanhã...

Não tardou e os raios de sol se fez presente e alguém lhe chama! Era um senhor que a ele havia emprestado um certo valor em dinheiro e queria o seu crédito. O que responder, como resolver? Respondeu com voz corajosa: até amanhã vou em sua casa! Estarei a resolver de uma vez essa situação e essa cilada da vida!

Voltou para o interior da casa e conversou com a esposa sobre um pensamento que lhe estava martelando a moleira. A esposa relutou, mas os argumentos do companheiro suplantou a sua condição e o pensamento de mãe, onde Deus dá pão dá o castigo. E, à noitinha o filho terceiro foi levado pelo pai para a casa de uma parente até que a coisas melhorassem. Essa foi uma decisão contábil em que o menos passaria à condição de mais. Mas também uma amputação na árvore genealógica ao se separar do filho e mesmo dizendo para si e para a mulher, as coisas vão demudar... Virou-se e foi embora.

A criança não compreendeu direito as explicações do pai e da mãe, tampouco a cuidadora deu a ela elucidações. O silencio imperava juntamente com as ordens para cumprimento dos afazeres domésticos. Era assim, dia após dia. As lembranças de casa sempre aflorava em seus pensamentos, comida tinha, mas a fome do aconchego familiar lhe corroía o coração. Quando esta noite será dia?! Espera que espera...

Esperou dias, noites... esperou até por esperar... quando ouviu vozes conhecidas! Saltou de pronto da cama para o chão de cimento avermelhado, correu e se jogou nos braços da mãe! Que acolheu e disse: - Vem, vamos embora que esperar demora!

Gelson Fernandes Vieira nasceu em Cotegipe BA. É gestor cultural, pedagogo, fundador do Centro de Cultura e Educação Popular – CECEP. Foi representante Territorial de Cultura pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia no Território de Identidade da Bacia do Rio Grande. Estudou Projeto Cultural com ênfase em Pastoral da Cultura pela PUC Minas. Foi coordenador municipal de cultura na cidade de Barreiras e, é assessor do Ponto de Cultura Flor do Trovão em Barreiras. Instagram: @gelsoncultura, e-mail: gelsoncultura@gmail.com.